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ORIGEM DA UMBANDA NO PLANO MATERIAL (1908) - PÓS EXISTÊNCIA DO MEU CAVALEIRO DE OURO – E OS EFEITOS ANTAGÔNICOS “PREJUDICIAIS” AOS PRATICANTES

Atualizado: 30 de jul.



Você que já foi a um terreiro de umbanda, ou é filho (a) de santo que compõe o corpo mediúnico ou um mero (a) frequentador de um terreiro, em algum momento indagou sobre a origem da Umbanda historicamente.


Outra coisa que uma pessoa se depara normalmente ao ter contato com a Umbanda é sobre a diversidade dos atos ritualísticos, crenças, a organização e também dos preceitos. A mudança dessas abordagens de cada terreiro de Umbanda ocorre muitas vezes em razão da liderança espiritual de cada Casa, vejam:


O pai ou mãe de santo seguem às ordens dos seus Guias espirituais. São as entidades que coordenam os trabalhos que determinam como a templo espiritual deve atuar e o sacerdote, em grande maioria, atende à essas determinações. Ele (a) conclui que a maior parte dos trabalhos de caridade são realizados pelas entidades, logo: socorro espiritual, os conselhos e orientações são dos Guias!


Porém, há fatores apontados pelo Pai de Santo Jorge Caetano do Núcleo de Estudos Umbandistas – NEU de grande consideração. Ele aponta para uma problemática que é uma grande verdade existente por quem passa a frequentar terreiros e que é prejudicial para o umbandista: a possibilidade de contradição de liturgias, orientações e rituais (CAETANO, 2023).


Há grande possibilidade de um frequentador (a) ouvir uma orientação e depois ouvir outra totalmente conflitante com a situação de vida dessa pessoa. Pai Jorge, fundamentadamente em seu livro O Transtorno de Identidade de uma Religião Violentada, define que essa problemática é decorrente dos primórdios da Umbanda e de sua perpetuação (CAETANO, 2023).

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Para Pai Jorge, essa variação que acarreta numa confusão generalizada de crenças e ritos, é oriunda de um transtorno de identidade. E o termo “religião violentada” deve-se em razão de autoridades acadêmicas que não vivenciaram o mínimo de Umbanda serem considerados detentores de conhecimentos que o tornam capazes de defini-la (CAETANO, 2023).


Ele comenta no canal do Youtube em um quadro denominado “Controvérsia” que, após a publicação desse seu livro, encontrou uma crítica ao seu trabalho perguntando se Umbanda é transtorno de identidade ou riqueza cultural? Só que riqueza cultural é muito associado a folclore (conjunto de manifestações culturais) e religião já é um conjunto de crenças, rituais e valores (SIGNIFICADOS, 2025).


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O Primeiro Congresso do Espiritismo de Umbanda de 1941 já indicava a existência dessa confusão (FEU, p. 6):


O conceito alcançado entre nós pelo Espiritismo de Umbanda nestes últimos vinte anos de sua prática, deu motivo à fundação nesta capital de elevado número de associações destinadas especialmente a esta modalidade de trabalhos, cada qual procurando desempenhar-se a seu modo, para atender a um número sempre crescente de adeptos.

Sua prática variava, entretanto, segundo os conhecimentos de cada núcleo, não havendo, assim, a necessária homogeneidade de práticas, o que dava motivo a confusão por parte de algumas pessoas menos esclarecidas, com outras práticas inferiores de espiritismo.

Portanto, um dos fatores que aponta para esse antagonismo foi a invasão de grupos que se auto demoninavam umbandistas, mas que na prática não realizavam crenças e ritos originais da Umbanda.


Além disso, faz parte de toda religião a presença de dogmas. E trazendo uma breve noção sobre o dogmatismo das religiões, pode-se conceituá-lo como sendo um entendimento impossível de ser comprovado na prática, pela experiência. Uma crença que permanece no campo da idéia de simples crença, não pode ser objeto de comprovação. Pai Jorge ensina que a própria crença em Deus já é um dogma, isso porque se Deus existe, ninguém pode provar a existência dele. (CAETANO, 2023).


Vale acrescentar que O Primeiro Congresso de Umbanda (FEU, 1941) trouxe a concepção de Deus para os umbandistas:


No espiritismo de Umbanda existe a mesma concepção de um Deus impessoal, incorpóreo, Criador e Animador do Universo, não nascido, eterno, sem princípio e sem fim, origem e meta de todos os seres animados e inanimados. A compreensão deste princípio está em relação com o desenvolvimento mental dos adeptos já ingressados no segundo grau evolutivo, cujos ensinamentos não são trazidos por instrutores invisíveis, e só podem ser difundidos entre um pequeno número de mentes previamente reparadas. (FEU, p. 28 )


O Congresso (FEU, 1941) também tratou de apresentar em que consiste uma religião?



Uma religião consiste no esforço desenvolvido por uma coletividade para atingir a sua independência espiritual, sob determinada corrente de pensamento.

Sabendo-se que esta independência só se consegue por meio do aperfeiçoamento moral, o esforço desenvolvido em tal sentido por uma coletividade, transforma-se na sua religião, ainda que muitos dos seus elementos o ignorem (p. 146 a 147)


A trajetória científica da Umbanda:


Bem, o interesse científico (o de fazer estudos científicos sobre a Umbanda) surgiu na primeiramente década de 30 com um médico psiquiatra chamado de Artur Ramos. Foi ele o primeiro cientista a trazer a grafia “Umbanda” para o campo científico, porém seu estudo não foi benéfico para a Umbanda.


Isso porque para Ramos, os praticantes de religiões mediúnicas sofrem de graves problemas mentais. Segundo ele, caso o individuo fosse saudável mentalmente e passasse a frequentar dada religião mediúnica ele contrairia algum problema mental à medida que cultua a religião respectiva (CAETANO, 2023).


Pai Jorge denomina de pseudociência o estudo de Artur Ramos, primeiro por não reconhecê-lo um antropólogo e depois por não abordar essas religiões com o objetivo de explaná-la cientificamente. O que ele queria comprovar era que os praticantes são doentes mentais. E não há evidência científica disso (CAETANO, 2023).


Na década de 50 advém um certo número de publicações sobre Umbanda que Pai Jorge afirma poderem ser classificadas basicamente em dois polos: Woodrow Wilson da Matta e Silva e Tacredo da Silva Pinto com Byron Torres de Freitas (Tancredo é o autor intelectual e Byron fez a escrita em virtude de Tancredo ser analfabeto).


E na década de 60 surge Roger Bastide, um sociólogo francês, professor da USP e autor de, entre outras obras, As religiões africanas no Brasil, um livro dedicado à pesquisa do negro e das religiões de matriz africana. Bastide pode ser considerado especialista em candomblé e contribuiu na formação de intelectuais brasileiros pavimentando o caminho para novas pesquisas e do campo religioso brasileiro (CARTA CAPITAL, 2020)


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Bastide é conhecedor de Candomblé, mas não de Umbanda. Ele enxergava um intenso conflito racial no Brasil, de intensidade capaz de gerar até uma guerra civil no país. Então, esse entendimento Pai Jorge interpreta como uma ficção sobre a Umbanda, pois envolve espionagem, traição, conflitos, teoria da conspiração e romance (CAETANO, 2023).


Ora, o sucesso dessa nova seita, primeiro no Rio, em seguida nos outros estados do Brasil, Minas, Rio Grande do Sul, São Paulo, Recife, prova que ela correspondia à nova mentalidade do negro, mais evoluído, em ascensão social, que compreendia que a macumba o rebaixava aos olhares dos brancos, mas que, entretanto, não queria abandonar completamente a tradição africana.

Umbanda é uma valorização da macumba através do espiritismo, e o ingresso de brancos em seu seio, trazendo com eles restos de leituras mal digeridas de filósofos, de teósofos, de ocultistas, não podia, senão, ajudar essa valorização.

Pelo menos em certa medida, até o momento no qual a valorização se transforma em traição, na qual a origem africana da Umbanda é esquecida, pois existem uma valorização negra e uma valorização branca que se cruzam, como veremos, por causa desse duplo contingente de adeptos, o de cor e o de origem europeia.

A luta racial prosseguirá ainda sob uma forma mais sutil, é verdade, e mais disfarçada. (CAETANO apud BASTIDE)



Traduzindo e resumindo Bastide, ele fala da transição do Brasil ruralista para industrial e que, diante desse fato, o negro passa a imitar o branco para obter tratamento mais igualitário. E, em busca dessa igualdade e do desejo de inserir-se na sociedade, larga também sua degradante macumba carioca para adotar outra religião. Ocorre a classe mais alta com intelectuais brancos que clandestinamente iam à macumba para obter pequenos favores espirituais (simpatizantes) uniram-se com esse negro adaptável e ambos os grupos juntaram um extrato da macumba com espiritismo e catolicismo e fundaram a Umbanda (CAETANO, 2023).


Posteriormente, Bastide obteve um seguidor chamado Renato Ortiz, muito respeitado na sociologia e obteve sua tese de doutorado defendendo praticamente o mesmo conceito de Bastide, ele só entende que essa união foi uma sinergia e não uma traição do branco com o negro – posição de Bastide (CAETANO, 2023).


Portanto, vemos que Bastide e Ortiz excluem a paternidade da Umbanda de Zélio Fernandino. O que esse espaço entende também como um erro haja vista que o Instituto Rubens Saraceni (autor norte de nossa crença umbandista) também define Zélio como o fundador da nossa religião mediante o Caboclo das 7 Encruzilhadas (INSTITUTO SARACENI, 2025)


Não é apenas a posição do Instituto Saraceni que torna Zélio o fundador para nós. Pai Jorge explica que há 3 teorias acadêmicas que procuram explicar a origem da Umbanda. E ele também fundamenta de maneira sóbria sua posição em Zélio com sua própria produção acadêmica e inclui ainda Diamantino Fernandes Trindade e Ronaldo Linhares.


Pai Jorge Caetano (2023) fala:


Entre aqueles que defendem essa teoria, eu me incluo muito modestamente, porque também tenho produção acadêmica dentro dessa área, eu me incluo assim, pequenininho, perto de pessoas que têm uma contribuição gigantesca para tentar confirmar cientificamente a tese de Zélio, são pessoas ligadas à historiografia, aí eu não posso deixar de registrar os nomes de Diamantino Fernandes Trindade, Ronaldo Linhares, que já tem uma obra vasta, extremamente marcante nessa área, tentando confirmar a tese de que a Umbanda nasceu com Zélio.


Diana Brow - Antropóloga
Diana Brow - Antropóloga

Pai Jorge ainda aponta a importante presença de Diana Brow, uma grande antropóloga que, diferente dos demais, aprendeu a língua portuguesa, entrevistou Zélio, foi morar numa favela e frequentou terreiros de Umbanda (CAETANO, 2023 ).


O dirigente explica que Diana também entende que a Umbanda é uma religião que nasce a partir das macumbas; que ela comenta sobre equívoco das ciências sociais da época em definir que o fator modernização, desenvolvimento iria acarretar na extinção das religiões negras no país ; da preferência em estudar o candomblé por ser “puro” ao passo que a umbanda era vista como um “kit”, encenação... e então Ela, um nome de peso, um ícone, decidiu estudar a Umbanda (CAETANO, 2023).


Eu relacionei os primórdios da Umbanda, mais especificamente as atividades de uma pessoa em particular, Zélio de Moraes, que, no relato de sua doença, de sua posterior cura e da revelação de sua missão especial para fundar uma nova religião chamada Umbanda, fornece aquilo que considero como um mito de origem da Umbanda.

Não posso estar totalmente certo de que Zélio foi o fundador da Umbanda, ou mesmo que a Umbanda tenha tido um único fundador, muito embora o Centro de Zélio e aqueles fundados por seus companheiros tenham sido os primeiros que encontrei em todo o Brasil que se identificavam conscientemente como praticantes de Umbanda.

A historiografia da Umbanda é extremamente imprecisa sobre esse aspecto, e fora desse contexto, a história de Zélio não é amplamente reconhecida, nem tampouco ganhou uma aceitação geral, particularmente entre os líderes mais jovens.

Representando ou não o seu relato, o momento histórico real da fundação da Umbanda, de qualquer maneira, ele é extremamente convincente no sentido de dar conta de como a fundação da Umbanda provavelmente ocorreu, combinando a realidade dos primeiros centros efetivos de Umbanda e o pessoal participante (CAETANO,2023).


Bem, trecho da entrevista da Diana Brown em si nós não podemos reproduzir porque a Folha de São Paulo expressamente proíbe a divulgação de texto dessa entrevista, porém você pode acessá-la aqui e ler o final que é o mais importante.


Importante, porque Diana, uma antropóloga agnóstica, afirma que não pode ir contra tudo que viu nos terreiros em termos de fenômenos mediúnicos. E finaliza afirmando que a Umbanda “trata, cura e cuida” (UOL, FOLHA DE SÃO PAULO, 2008). Pai Jorge e umbandistas de uma maneira geral também concordam com essa afirmação (CAETANO, 2023).



Porque no título "Pós Existência do Meu Cavaleiro de Ouro"?


Apenas a título de crença, a umbanda dá início a sua formação no plano material por volta de 1600, época das capitanias hereditárias, sob o Cavaleiro da Estrela Guia. É o conceito que extraímos da obra cerne deste site.

O contato de Simas de Almoeda com escravo João de Mina (implicitamente é um típico preto velho) juntamente o contato posterior ao Pajé Anhanguara (implicitamente um típico caboclo) na capitania hereditária de Pernambuco nos mostra o início da junção destes dois arquétipos.


Porque o Cavaleiro da Estrela Guia não aparece no evento Zélio/FEB-RJ e sim o Caboclo das 7 Encruzilhadas?

De fato, não há participação material e nem espiritual do Cavaleiro no evento ocorrido na Federação Espírita no Rio de Janeiro em 1908. A razão disso é a infeliz ocorrência apresentada na obra O Cavaleiro da Estrela Guia - Um Mergulho nas Trevas.


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Portanto, há um contexto espiritual profundo que nem a nós aqui que estamos no plano material é totalmente revelado. Para quem quiser saber qual é esse contexto ou entender um pouco dele, é preciso ler a obra compilada O Cavaleiro da Estrela Guia - A Saga Completa a qual reúne a psicografia das 3 obras: a) O Cavaleiro da Estrela Guia - Volume I; b) A Saga Continua e c) Um mergulho nas Trevas. Apenas a obra Um mergulho nas Trevas não é mais individualmente comercializada.

Por fim, outra obra que endossa esse contexto espiritual é O Guardião da Meia Noite - também psicografada por Pai Rubens Saraceni.


REFERÊNCIAS:


BASTIDE, Roger. As Religiões Africanas no Brasil: Contribuição a uma Sociologia das Interpenetrações de Civilizações. 1ª São Paulo: Pioneira, 1971. 567 p. (2º).


BROWN, Diana. Uma história da Umbanda no Rio. In. Cadernos do ISER nº 18. Rio de Janeiro. Marco Zero, 1985 – Págs 9- 42.)


CAETANO, Jorge. Núcleo de Estudos Umbandistas: Controvérsia nº 2. Youtube. Publicado: 5 de novembro 2023. Duração: 1:39 min. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QMEZf4oSZjE&t=682s Acesso: 15 de julho 2025.


CAPITAL, Carta. Um Francês que Fez História na USP e seu Fascínio pelo Candomblé. Disponível: https://www.cartacapital.com.br/carta-capital/um-frances-que-fez-historia-na-usp-e-seu-fascinio-pelo-candomble


FEU - Federação Espírita De Umbanda. Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda. Rio de Janeiro: Jornal do Comércio, 1942, p. 20. Disponível em: https://www.espiritualidades.com.br/Artigos/C_autores/Congresso_de_Umbanda.pdf. Acesso em: 17 de julho 2025.


SARACENI, Instituto. Instituto Saraceni. Disponível: https://www.institutosaraceni.org.br/


SIGNIFICADOS. Disponível; https://www.significados.com.br/religiao/ Acesso em 13 de julho de 2025.


UOL, Folha de São Paulo. Data: 30 de março de 2008. Disponível; https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs3003200805.htm


TVUFSC. Universidade Já – Aula Magna com a professora Diana Brown. Data: 18 de abril de 2013. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=WfRYQ-CyiI8. Acesso: 19 de julho de 2023.

 
 
 

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